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O CRISTIANISMO É UM ERRO - JESUS NÃO MORREU NA CRUZ E NÃO RESSUSCITOU
Ao homem
primitivo assustavam-no os fenómenos naturais, o aparecimento em sonhos dos
antepassados falecidos, as inquietações para que não tinha qualquer resposta, em
especial para a morte.
O medo levou-o a
criar deuses, que justificou com revelações imemoriais. Com eles o pensamento
instituiu as crenças na reincarnação e na ressurreição, qual delas a mais
ilógica e desesperada.
No entanto, é
possível e plausível, que a primeira ideia dos povos ancestrais quanto à
existência de um ser superior tenha recaído numa entidade do “mal”, um “diabo”,
agressivo e punitivo, de poder temível. Poder este, que depois viria a ser
atribuído a deus, de modo qualitativa e quantitativamente superior, de forma a
que este pudesse derrotar aquele e pela súplica as nossas aflições e
padecimentos.
O homem sofre,
angustia-se, tem medo, sentimentos de culpa e simultaneamente quer ser o centro
do universo. Por isso criou deuses, a maioria pessoais. Falsos e limitados como
o pensamento e como convém a mentes estreitas, condicionadas e envelhecidas,
mentes que pedem, imploram, oferecem bens e sacrifícios em troca de favores. Já
Platão se referia pejorativamente a todos os que consideravam de forma
aberrante, que Deus pudesse ser propiciado com dádivas e ofertas; a divindade
estaria assim, a par dos cães que ludibriados e amansados com alimentos de boa
qualidade, deixavam depredar os rebanhos e abaixo dos homens comuns, que seriam
incapazes de atraiçoar a justiça, por via de presentes oferecidos com intenção
delituosa – no tempo de Platão, ao que parece, os homens comuns eram a regra
da dignidade e verticalidade...
As religiões
nascem ou de antigas tradições, que vão sendo aperfeiçoadas no seu conteúdo
teológico ou até de um simples acaso, como ocorreu com o cristianismo.
Quando Jesus
nasceu, a denominada Terra Santa estava sob o domínio romano. O Império, numa
atitude de inteligente condescendência, permitia que as populações dos
territórios ocupados mantivessem alguma autonomia, quer a nível religioso quer
político, amenizando assim o espírito de revolta inerente a todas as situações
que envolvem a perda de soberania e consequente descaracterização de valores e
costumes próprios dos subjugados. Herodes, o Grande, governava a Palestina, com
a anuência e vigilância do Imperador romano. Quando morreu, o reino foi
dividido pelos seus três filhos, Arquelau, Herodes Antipas e Filipe. O primeiro
governou a Edumeia, a Judeia e a Samaria. O segundo, a Galileia e a Pereia. O
último, a Transjordânia. Arquelau incompatibilizou-se com o Império, ao que os
seus territórios passaram a ser governados por um procurador romano. Por isso
encontramos Pôncio Pilatos em Jerusalém aquando da morte de Jesus. Até aos dias
de hoje, foi de todo impossível estabelecer a sua data de nascimento;
possivelmente nasceu entre três e sete anos antes da nossa era.
Segundo Mateus,
Maria concebeu e deu à luz Jesus, sem que José a tivesse “conhecido” (Mt 1,25).
O seu nascimento teria ocorrido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes (Mt
2,1), que ao que parece terá falecido no ano quarto a.C. Avisados de que este
pretendia matar o menino, fugiram para o Egipto, onde permaneceram durante
algum tempo (Mt 2,13-15). Morto Herodes, o Grande, terão retornado à terra de
Israel, porém, José teve conhecimento, que Arquelau reinava na Judeia em lugar
de seu pai, e tendo medo retirou-se para a região da Galileia, indo morar numa
cidade chamada Nazaré (Mt 2,19-23).
A partir daqui,
Lucas refere que o Menino crescia e robustecia-Se, enchendo-Se de sabedoria, e
a graça de Deus estava com Ele, narrando o episódio do templo, quando tinha
doze anos e estarrecera os doutores com as suas perguntas e respostas (Lc
2,40-51). Daqui, até ao início do seu ministério apenas se conhecem as palavras
de Lucas. “E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus
e dos homens” (Lc 2,52).
Qual foi a
educação de Jesus até aos doze anos? Na Índia, com os Essénios em Qumran, com
algum mestre desconhecido ou com os seus pais denotando uma sabedoria inata e
precoce? E onde é que esteve entre os doze e os trinta anos? Na Índia ou entre
os Essénios? Desenvolvendo individualmente as suas capacidades? São múltiplas
as hipóteses com milhares de obras e milhões de páginas gastas com um problema
insolúvel. A verdade, é que o Jesus histórico, a sua personalidade e
ensinamentos, ter-se-ão perdido no vazio dos tempos. Em bom rigor, os primeiros
textos sobre a sua vida só terão sido escritos – excepcionando-se as cartas
de Paulo, a que nos iremos referir em momento posterior – dezenas de anos
após a sua crucificação – entre os anos 70 e 100 –, e é de todo
injustificável a construção de doutrinas, algumas absolutamente aberrantes,
desprovidas da menor consistência histórica e lógica, que apenas têm como
intuito a venda de “livros da moda”. Nunca se escreveu tanto na história da
humanidade sobre alguém de que se sabe tão pouco.
Para o
conhecimento da vida de Jesus, contamos essencialmente com os quatro Evangelhos
canónicos do Novo Testamento – atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João
–, muito especialmente no período que vai do início do seu ministério até à
eventual ressurreição, e dos apócrifos – que foram rejeitados pela Igreja e
como tal não são considerados livros sagrados –, sem olvidar os “Actos dos
Apóstolos”, atribuídos a Lucas. Os três primeiros Evangelhos dizem-se
sinópticos, pelo paralelismo ou visão de conjunto que se torna possível
estabelecer entre eles.
O ministério de
Jesus tem como antecâmara a pregação de João Baptista no deserto da Judeia,
dizendo “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3, 1-3).
Então, Jesus que deveria ter cerca de trinta anos, veio ter com ele para ser
baptizado (Mt 3, 13). Após a prisão de João, Jesus retirou-se para a Galileia,
tendo ido habitar em Cafarnaúm, começando a pregar a partir deste momento (Mt
4, 12-17).
Depois de iniciar o seu ministério, começou Jesus a
percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, curando o povo de todas as
doenças. “A Sua fama estendeu-se por toda a Síria e trouxeram-Lhe todos os que
sofriam de qualquer mal, os que padeciam de males e tormentos, os
endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos; e Ele a todos curou.
Seguiram-nO
grandes multidões, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e
de além do Jordão” (Mt 4, 23-25).
Os Evangelhos
referem constantemente o facto de Jesus ser seguido por grandes multidões e a
realização de inúmeros e fantásticos milagres nos lugares por onde andou, à
excepção de Nazaré, por causa da falta de fé da sua gente – “Um profeta só é
desprezado na sua pátria e em sua casa”. Este facto faz com que estranhemos
sobremaneira a atitude dos investigadores da época de Jesus. A anuência das
multidões à sua palavra e a realização de curas verdadeiramente milagrosas, não
poderiam passar desapercebidas a inúmeros historiadores, tais como, Suetónio
(65-135) e Plínio, o Jovem (61-114) – que se referem à seita dos cristãos,
mas nada escrevem sobre Jesus –, a Flávio Josefo, autor de uma obra
denominada “Antiguidades Judaicas”, publicada por volta do ano 90 – onde
refere Herodes, João Baptista e Pôncio Pilatos, mas também nada escreve sobre
Jesus. Dois contemporâneos de Jesus, também não escrevem nada sobre a sua
vida e obra: Fílon de Alexandria, e o mais estranho, Justo, que viveu em
Tiberíades, nas proximidades de Cafarnaúm – onde Jesus terá arrastado
multidões e realizado inúmeros milagres, como Mateus mencionou e já referimos
supra. Apenas Tácito (55-120), refere um homem de nome Cristo, crucificado
no tempo do imperador Tibério, pelo governador Pôncio Pilatos.
Se os Evangelhos
de Mateus, Marcos e Lucas, se aproximam da verdade histórica, então Jesus tinha
medo da morte: “ (...) Jesus chegou com eles a um lugar chamado Getsemani e
disse aos discípulos: «Ficai aqui, enquanto Eu vou além orar». E, levando
consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a
angustiar-Se. Disse-lhes então: «A Minha alma está numa tristeza de morte;
ficai aqui e vigiai Comigo». E, adiantando-Se um pouco mais, caíu com a face
por terra, orando e dizendo: «Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice;
todavia, não seja como Eu quero, mas, como Tu queres» (Mt 26,36-39) – veja-se
Marcos 14,32-37 e Lucas 22,39-45. Tudo nos leva a crer que Jesus não pretendia
morrer, que esse não era o seu desígnio e vontade.
Jesus foi
condenado à morte por crucificação. Esta forma de pena era brutal, pela duração
da agonia e pela dor que causava, não estando destinada aos cidadãos romanos,
mas tão-somente aos “criminosos” dos povos dominados. Com ela, pretendia o
império aterrorizar os rebeldes e todos os que atentavam gravemente contra si e
contra a ordem pública. O peso do corpo da vítima, quando suportado apenas
pelos pulsos, levava à sua lenta sufocação, sobrevindo a morte em cerca de seis
horas. Para minimizar o sofrimento dos condenados, por vezes, partiam-se-lhes
as pernas, o que tornava a asfixia mais rápida. Tal procedimento, terá ocorrido
no tocante aos dois homens que foram crucificados com Jesus, já após este ter
rendido o espírito, de forma a que os corpos não ficassem na cruz, pois
estava-se no dia da Preparação – dia que antecedia o sábado, que excluía
qualquer tipo de execução e começava com o pôr-do-sol de sexta-feira,
correspondendo neste particular ao início das festas pascais judaicas – (Jo
19,31-33). Jesus nessa altura, já havia sido considerado morto, tendo-se
limitado um soldado a perfurar-lhe o lado com uma lança (Jo 19,34).
Terá sido pregado
na cruz na hora sexta ou meio-dia, e considerado morto na nona hora ou três da
tarde. Ao anoitecer – talvez pelas seis horas da tarde – o corpo foi
retirado da cruz – iniciava-se o sábado e tudo leva a crer que a
crucificação de Jesus e dos dois malfeitores foi feita à pressa (Mt 26,5).
Ora, os
Evangelhos sinópticos referem que Jesus antes de entregar o espírito ao Pai,
terá dado um grande grito, o que teoricamente é de todo impossível para quem
está a falecer por asfixia. A ausência ou insuficiência de oxigénio ocasiona
uma debilidade que torna impossível qualquer brado ou manifestação vocal
vigorosa. “Desde a hora sexta, até à hora nona, as trevas envolveram toda a
terra. E, cerca da hora nona, Jesus clamou em alta voz: «Elli, Elli, lema
sabacthani?» isto é: «Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?». Alguns dos
que ali se encontravam, disseram ao ouvi-Lo: «Está a chamar por Elias». Um
deles correu imediatamente, tomou uma esponja, embebeu-a em vinagre e,
fixando-a numa cana, dava-lhe de beber. Mas os outros disseram: «Deixa, vejamos
se Elias vem salvá-Lo!». E, clamando outra vez em alta voz, expirou.” (Mt
27,45-50) – veja-se também, Mc 15,37, que refere um grande brado e Lc 23,46,
onde se diz que Jesus exclamou, dando um grande grito: «Pai, nas Tuas mãos
entrego o Meu espírito», expirando de seguida.
Não vamos tão
longe como Nicolai Notovitch, que publicou em 1887 “A desconhecida vida de
Jesus” ou mais recentemente – mas na esteira daquele – o teólogo Holger
Kersten, que afirma ter Jesus, após a “ressurreição” vivido e sido sepultado na
Índia. Este último aventa a hipótese de ter sido dado a Cristo, não vinagre,
mas uma substância extraída de uma planta, como a Erva-andorinha, que provoca
em doses ponderais mas não letais, um estado cataléptico semelhante ao da
morte, em que todos os sinais vitais, como a respiração e a pulsação se tornam
imperceptíveis. Isto explicaria a rendição do espírito, logo após a
administração da “substância”, identificada como vinagre – o vinagre tem um
efeito estimulante, que facilitava a agonia dos condenados, mas que não
acelerava o processo executório. Os factos conducentes a tais conclusões
são no nosso entender falíveis, tal como falível é toda a tentativa de definir
com rigor o Jesus histórico. No entanto, tudo aponta para que tenha sobrevivido
à crucificação. A morte aparente ou estado cataléptico era um fenómeno bastante
usual na antiguidade e até há bem pouco tempo – quem é que não recorda
episódios de pessoas que foram sepultadas vivas?!.
É essa a nossa
intuição. Jesus sobreviveu à crucificação.
Em Marcos, Maria
de Magdala, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, quando se preparavam para o
embalsamar, constataram que já não estava no sepulcro talhado na rocha, cedido
por José de Arimateia, tendo um anjo anunciado a sua ressurreição e a sua
vontade de encontrar os discípulos na Galileia (Mc 16,1-8). Terá aparecido
primeiramente a Maria de Magdala, depois a dois dos discípulos, para aparecer
finalmente aos onze, quando estavam à mesa, censurando-lhes a incredulidade (Mc
16,9-14). Segundo Mateus, aparece a Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e
Salomé, e a Maria de Magdala, no primeiro dia da semana, após estas terem
verificado que o túmulo se encontrava vazio, ordenando-lhes que dissessem aos
seus discípulos que partissem para a Galileia onde pretendia encontrar-se com
eles (Mt 28,1-10). Lucas, refere que as mulheres encontraram a pedra do túmulo
removida e entrando não encontraram o corpo de Jesus. Estando perplexas com a
ocorrência, apareceram-lhe dois homens em trajes resplandecentes, que lhes
deram conta da ressurreição. O próprio Pedro, por elas informado, deslocou-se
ao sepulcro, onde apenas viu as ligaduras e o sudário (Lc 24,1-12). No caminho
de Emaús, apareceu a dois discípulos, que inicialmente o não reconheceram (Lc
24,13-16) e posteriormente aos onze (Lc 24,36). Encontramos idêntica narração
no Evangelho de João.
As aparições de
Jesus, considerado morto, devem ter fortalecido a fé dos discípulos, homens
simples e crentes num novo Deus, misericordioso e compassivo (Act 2,1-13),
levando-os à evangelização, não obstante a feroz oposição judaica. A Nova
Aliança – toda a Bíblia é a história de alianças estabelecidas entre Deus e
os homens –, teve como arrebatado opositor, Saulo ou Paulo, que para além
de aprovar a morte do primeiro mártir, Estevão (Act 7,54-60), devastava a
Igreja nascente, indo de casa em casa, arrastando homens e mulheres,
entregando-os à prisão (Act 8,1-3).
Foi este Saulo,
que quando se dirigia para Damasco, perseguindo homens e mulheres desta “Via”,
encontrou Jesus, que lhe terá perguntado: «Saulo, Saulo, porque me persegues?»
(Act 9,1-5). Convertido, começou imediatamente a proclamar que Jesus era o
Filho de Deus (Act 9,20) – veja-se ainda Act 22,5-16 e 26,10-18 –,
considerando-se Apóstolo por vocação, escolhido para anunciar o Evangelho (Rom
1,1).
É indubitável que
os mais antigos documentos conhecidos do cristianismo foram escritos por Paulo
– as Cartas –, homem psicologicamente complexo e possuidor de vasta
cultura, ao contrário dos discípulos, simples e iletrados (Act 4,13).
Provavelmente, na sua ambição de liderar uma religião nascente, que não
privilegiava judeus, estendendo-se aos gentios, a todos os homens e mulheres de
boa vontade, e que não obstante o fraco nível dos seus pregadores crescia com
uma celeridade inesperada, previu a sua projecção no futuro e a possibilidade
de atingir a celebridade. A este facto, poderá acrescer um sentimento de culpa
pelas perseguições realizadas. Se bem atentarmos, nas Cartas, Paulo não refere
a doutrina real de Jesus, as suas parábolas, mas privilegia a sua própria doutrina.
Foi quer queiramos quer não, o organizador do cristianismo, que assim, antes,
havia de se denominar paulinismo, por expressar a sua filosofia e
teologia – entre outros, associou a morte de Jesus, Filho de Deus à
redenção dos nossos pecados, deu corpo aos dogmas da trindade e do pecado
original.
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