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A (IN)UTILIDADE DA METAFÍSICA
Independentemente
do que ficou explanado supra – VII -, enunciaremos agora, ainda que
sinteticamente, os principais argumentos a favor da existência de Deus aduzidos
por alguns filósofos representativos do pensamento ocidental.
Aristóteles tem
como principal argumento o da PRIMEIRA CAUSA.
O que produz o
movimento tem de estar imóvel e tem de ser eterno. Deus é o motor imóvel, que
ordena o mundo no sentido da perfeição, fazendo mover o primeiro céu - como
veremos, este argumento prende-se com a hierarquia da perfeição.
Também S. Tomás,
que estabelece cinco provas da existência de Deus – cosmológica, causal, das
coisas possíveis e das necessárias, dos graus, do ordenamento das coisas -,
afirma que o movimento é uma realidade; para que este movimento exista é necessário
que algo tenha produzido a sua existência, e assim sucessivamente, até que se
atinja um primeiro movimento. Se tudo o que se move é movido por outrem, não
podemos continuar até ao infinito na busca do primeiro movimento, não havendo
assim um primeiro motor, que não é movido seja por quem for. O primeiro motor
terá de ser Deus.
Também na PROVA
CAUSAL (Hobbes), cada coisa tem uma causa. Remontando de causa em causa,
acabaremos por encontrar uma causa que seja a original. Em sede de causas
eficientes não podemos continuar até ao infinito, já que desse modo inexistiria
uma primeira causa. Não existindo uma primeira causa, não existirão causas
intermédias e finais, pelo que S. Tomás é levado a crer que existe uma causa
primeira e que essa causa é Deus.
Por outro lado,
este argumento prende-se com a hierarquia ou GRAU DE PERFEIÇÃO, já que existe
um grau evidente de perfeição nas coisas. Ora, a absolutamente perfeita só
poderá ser Deus, donde todas as outras derivam. Interessante é a adaptação que
Aristóteles realizou do mito da caverna de Platão, donde retirava uma
prova inequívoca da existência da divindade. Caso tivessem existido homens a
viver em casas sumptuosas, rodeadas por tudo o que de mais belo o homem possa
conceber, mas no subsolo, sem que alguma vez tivessem contemplado o mundo
natural e apenas tivessem uma ideia ainda que ténue de Deus, seriam
imediatamente convencidos da sua existência, se pudessem contemplar, ainda que
por breves minutos, a natureza e a sua perfeição – julgo que esta
interpretação poderia ter alguma validade, se esses seres “subterrâneos”
emergissem numa floresta tropical, no seio de uma tribo numa ilha do Pacífico,
no Alasca, mas não, nos subúrbios de Bombaim, S. Paulo, Luanda, Maputo, num
qualquer cenário de guerra ou num hospital do terceiro mundo.
Acresce a PROVA
ONTOLÓGICA (S. Anselmo). Se Deus é o que de maior pode ser pensado, e se como
tal esse objecto do pensamento não tem existência, outro como ele e que exista
será maior. Assim o maior dos objectos do pensamento terá de existir, sob pena
de ser possível a existência de um maior, ao que Deus existe.
Também Leibniz
expõe vários argumentos, entre os quais o ONTOLÓGICO, o COSMOLÓGICO e o DAS
VERDADES ETERNAS. Pelo primeiro entende que podemos conceber um Ser maximamente
perfeito, donde se segue que existe, porque a existência está entre o número
das perfeições. O segundo, argumento da causa primeira, atesta que se toda a
coisa finita tem uma causa, não poderá manter-se uma sucessão infinita de
causas, havendo assim uma causa sem causa, que é Deus, ou seja, como tudo tem
de ter uma razão suficiente, a do Universo será Deus. O terceiro refere que as
proposições que respeitam à essência e não à existência, ou são sempre
verdadeiras ou nunca o são, pelo que as que são sempre verdadeiras, são
verdades eternas.
Verificamos ainda
a existência da PROVA DAS COISAS POSSÍVEIS E DAS NECESSÁRIAS, da PROVA DO
ORDENAMENTO DAS COISAS (S. Tomás) e do argumento relativo À REPARAÇÃO DA
INJUSTIÇA.
No que toca à
primeira prova, constatamos que neste mundo as coisas são mudáveis e dependem
de outras na sua existência. As coisas possíveis existem como consequência das
coisas necessárias. As necessárias têm a causa dessa necessidade em si mesmas
ou em qualquer outra. Estas últimas, remetendo para outra, e assim
sucessivamente, poderiam levar-nos até ao infinito, o que repugna à razão, pelo
que, necessitamos de encontrar algo nessa cadeia, que seja necessário por si e
esse Ser necessário por si, é Deus.
Relativamente à
segunda, constatamos a existência de uma ordem no Universo, ordem essa que deve
depender de uma Inteligência Suprema, em virtude das coisas privadas de
inteligência terem uma finalidade, uma ordem, pressupondo um Ser inteligente
que as governa e, que só pode ser Deus.
No que ao
terceiro argumento respeita, considera-se necessária a existência de Deus para
que a justiça seja reposta num mundo injusto
Sem que nos
alonguemos na análise dos argumentos expostos, arriscando-nos a entediar os
leitores, dir-se-á, que, em regra, em todos aqueles que se estribam na
impossibilidade lógica de ascendermos ao infinito, em sucessivas indagações,
transportando-nos quase que de modo automático à existência de Deus, poderemos
questionar-nos:
Se Deus é o
primeiro movimento, porque este tem de ser produzido por alguém e não podemos
logicamente remontar ao infinito; se Deus é a primeira causa, já que cada coisa
tem uma causa e não podemos remontar ao infinito, sendo ainda uma causa
necessária; se Deus é o que de mais perfeito existe, porquanto existindo um grau
de perfeição nas coisas só ele o pode ser; se Deus é o que de maior pode ser
pensado, tem de existir, sob pena de ser possível verificar a existência de um
maior, então, se tudo o que existe tem por origem o movimento, se em todas as
coisas há um grau de perfeição, se todas as coisas têm uma determinada
grandeza, se tudo tem uma causa, não a deverá Deus também possuir? E esta
causa, não lhe será qualitativa e hierarquicamente superior?
Ou seja,
coloca-se aqui uma questão fundamental: Quem criou Deus?
Anote-se que não
conseguimos discernir nenhum argumento válido para que o mundo tenha surgido
sem qualquer causa – fruto do acaso.
No domínio das
VERDADES ETERNAS, nada nos garante que existam, e se existirem, estarão ao
alcance do ser humano e do seu conhecimento limitado pelo espaço-tempo? – Supra
vimos que não.
Já a PROVA DO
ORDENAMENTO DAS COISAS merece reparo consequente e substancialmente idêntico ao
argumento QUANTO À REPARAÇÃO DA INJUSTIÇA. Não será necessário sustentar que
haja uma absoluta necessidade de alguém ordenar o Universo, mais ainda, quando
essa ordenação poderia ser bem mais perfeita do que aquilo que é. Por outro
lado, perante tal ordenamento universal, a injustiça no mundo é facto
indesmentível, como também a sua existência é um argumento que joga mais contra
a divindade do que a seu favor. Não é crível que um Ser Todo-Poderoso crie um
mundo repleto de imperfeições e injustiças, para depois as corrigir em
“julgamento final” num qualquer Inferno ou Paraíso. Seria munir de engenhos
incendiários um piromaníaco para depois o condenar, invocando a culpa na
formação da sua própria personalidade.
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