Download do texto
integral do blogue em »
http://www.homeoesp.org/livros_online.html
em
A (IN)UTILIDADE DA METAFÍSICA
Numa primeira abordagem, a morte é um facto biológico, que
não poupa qualquer ser vivo. Não podemos dizer que ela em nada consiste, porque
quando nós existimos não existe ela, e quando é ela que existe, somos nós que
não existimos.
A corrupção do corpo faz findar uma existência particular.
Não deixa de ser interessante, que a mesma surge a nossos olhos como reparação
natural de injustiças. Ninguém lhe sobrevive, nem ninguém retornou para acalmar
as inquietações dos que ficaram. Morrem sacerdotes e ateus, ricos e pobres,
poderosos e desvalidos, médicos e enfermos. A morte igualiza-nos; se não fomos
ouvidos para nascer, também não o seremos para morrer.
Platão, que na tradição socrática define a morte como a
separação da alma espiritual do corpo, identifica no diálogo Fédon, a
investigação filosófica com a purificação da alma e com a preparação para a
morte – entendida esta, como a libertação final. Daí, nasceu na
filosofia, e em filósofos de nomeada, o facto da morte se constituir como,
senão, o problema mais importante da filosofia, pelo menos um dos mais
importantes – Platão, Agostinho, Cícero, Schopenhauer, Kierkegaard,
Heidegger, para só citar alguns. Schopenhauer, faz inclusivamente depender
a filosofia da determinante experiência da morte, quando afirma que sem esta,
inexistiria aquela. Schelling pergunta-se se a morte será apenas um nada,
ou um nada que destrói o pensamento? Pergunta sem resposta.
A morte, alicerce básico das deduções que envolvem a
imortalidade, tem a sua especulação inspirada na necessidade psicológica que o
homem manifesta de não sucumbir à corrupção do corpo. E a religiosidade ou
nasce da constatação revelada ou inspirada da existência de um Ser
Todo-Poderoso, ou tem a sua origem nos factos da vida, nos medos, angústias e anseios
que nos enformam, procurando alijar pesada carga, tornando-o propício ou
benéfico pelas mais variadas formas de adoração. O homem tem a sua esperança em
Deus e na imortalidade da alma. Deus e a
imortalidade são as duas pedras angulares do instinto de segurança do ser
humano.
A alma, primórdio de vida e princípio de inspiração moral, não pode ser
investigada como problema religioso, independentemente dos problemas da
imortalidade e de Deus.
Filósofos e teólogos buscaram desde sempre isolar duas
substâncias diversas, mas bem definidas, no homem. Por um lado, a alma, que a
partir do momento da sua criação subsistiria por todo o tempo futuro, ou seja,
eternamente, e o corpo, sujeito à corrupção – mas que no caso do
cristianismo ressuscitaria como corpo glorioso.
Será que o espírito sobrevive ao corpo depois da morte? E
se perdura, perdura como um nada, um “vazio”, ou com os resíduos das emoções,
sentimentos, sensações, pensamentos, com o “eu” do seu detentor?
Se existir uma alma que sobreviva ao corpo, somos forçados
a admitir, que essa alma impregnada das vivências, emoções, conhecimentos e
memórias do seu portador, manifestar-se-á com todo o seu conteúdo numa nova
“vida”. É a continuidade do “eu”, essa entidade tão sofrida e insignificante. –
Improvável, quase absurdo. As nossas memórias estão intimamente dependentes do
cérebro, que está destinado com o corpo à extinção.
Quando o nosso discurso tem como objecto a alma, em regra,
estamos no domínio do pensamento. Pensamento que é a fonte do medo, de todos os
medos, e em especial do mais poderoso, o medo da morte. É o pensamento que
elabora doutrinas ou que se limita a afirmar com cega fé, em atitude de “santa
burrice”, a existência da alma, uma alma que é permanente, que não está
destinada à corrupção e que viverá com deleite os eternos prazeres dos céus.
Temos uma premente necessidade de acreditar na “vida”
depois da morte, porque temos medo e nos sentimos inseguros. Estamos
demasiadamente preocupados com a continuidade. Não queremos deixar de ser quem
somos, nem deixar de possuir o que possuímos.
Da mesma forma que na religião, são meras emoções que
proporcionam ao ser humano a crença na imortalidade, na alma. Daí que pergunte
de novo:
Poderá a imortalidade ser a continuação do “eu”? Estranha
vontade esta que nega a destruição do que é misérrimo, mesquinho e escabroso. O
imortal não tem qualquer afinidade com o mortal. Se o tiver, a imortalidade
será o mais duro dos castigos, o mais tenebroso dos infernos, uma
pena-de-suplícios-sem-fim.
Por fim, sem mais, limito-me a perguntar:
Porque existe alguma coisa em vez de nada?
Por acaso, acidente ou pela intervenção de um Génio
da Indiferença ou dum Génio do Mal?
Se por acaso ou acidente, o que é que os proporcionou?
Se por intermédio de um qualquer Génio, quem o
gerou?
A metafísica é uma corrida de cavalos mancos, que nunca
irão atingir a meta.
Aceitam-se apostas!
Analisaremos seguidamente a questão muito debatida da
divindade de Jesus
Ver »
Sem comentários:
Enviar um comentário