quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

IX - ALMA, MORTE E IMORTALIDADE



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A (IN)UTILIDADE DA METAFÍSICA
   

   
Numa primeira abordagem, a morte é um facto biológico, que não poupa qualquer ser vivo. Não podemos dizer que ela em nada consiste, porque quando nós existimos não existe ela, e quando é ela que existe, somos nós que não existimos.
A corrupção do corpo faz findar uma existência particular. Não deixa de ser interessante, que a mesma surge a nossos olhos como reparação natural de injustiças. Ninguém lhe sobrevive, nem ninguém retornou para acalmar as inquietações dos que ficaram. Morrem sacerdotes e ateus, ricos e pobres, poderosos e desvalidos, médicos e enfermos. A morte igualiza-nos; se não fomos ouvidos para nascer, também não o seremos para morrer.
Platão, que na tradição socrática define a morte como a separação da alma espiritual do corpo, identifica no diálogo Fédon, a investigação filosófica com a purificação da alma e com a preparação para a morte – entendida esta, como a libertação final. Daí, nasceu na filosofia, e em filósofos de nomeada, o facto da morte se constituir como, senão, o problema mais importante da filosofia, pelo menos um dos mais importantes – Platão, Agostinho, Cícero, Schopenhauer, Kierkegaard, Heidegger, para só citar alguns. Schopenhauer, faz inclusivamente depender a filosofia da determinante experiência da morte, quando afirma que sem esta, inexistiria aquela. Schelling pergunta-se se a morte será apenas um nada, ou um nada que destrói o pensamento? Pergunta sem resposta.

A morte, alicerce básico das deduções que envolvem a imortalidade, tem a sua especulação inspirada na necessidade psicológica que o homem manifesta de não sucumbir à corrupção do corpo. E a religiosidade ou nasce da constatação revelada ou inspirada da existência de um Ser Todo-Poderoso, ou tem a sua origem nos factos da vida, nos medos, angústias e anseios que nos enformam, procurando alijar pesada carga, tornando-o propício ou benéfico pelas mais variadas formas de adoração. O homem tem a sua esperança em Deus e na imortalidade da alma.  Deus e a imortalidade são as duas pedras angulares do instinto de segurança do ser humano.


A alma, primórdio de vida e princípio de inspiração moral, não pode ser investigada como problema religioso, independentemente dos problemas da imortalidade e de Deus.

Filósofos e teólogos buscaram desde sempre isolar duas substâncias diversas, mas bem definidas, no homem. Por um lado, a alma, que a partir do momento da sua criação subsistiria por todo o tempo futuro, ou seja, eternamente, e o corpo, sujeito à corrupção – mas que no caso do cristianismo ressuscitaria como corpo glorioso.

Será que o espírito sobrevive ao corpo depois da morte? E se perdura, perdura como um nada, um “vazio”, ou com os resíduos das emoções, sentimentos, sensações, pensamentos, com o “eu” do seu detentor?
Se existir uma alma que sobreviva ao corpo, somos forçados a admitir, que essa alma impregnada das vivências, emoções, conhecimentos e memórias do seu portador, manifestar-se-á com todo o seu conteúdo numa nova “vida”. É a continuidade do “eu”, essa entidade tão sofrida e insignificante. – Improvável, quase absurdo. As nossas memórias estão intimamente dependentes do cérebro, que está destinado com o corpo à extinção.

Quando o nosso discurso tem como objecto a alma, em regra, estamos no domínio do pensamento. Pensamento que é a fonte do medo, de todos os medos, e em especial do mais poderoso, o medo da morte. É o pensamento que elabora doutrinas ou que se limita a afirmar com cega fé, em atitude de “santa burrice”, a existência da alma, uma alma que é permanente, que não está destinada à corrupção e que viverá com deleite os eternos prazeres dos céus.
Temos uma premente necessidade de acreditar na “vida” depois da morte, porque temos medo e nos sentimos inseguros. Estamos demasiadamente preocupados com a continuidade. Não queremos deixar de ser quem somos, nem deixar de possuir o que possuímos.
Da mesma forma que na religião, são meras emoções que proporcionam ao ser humano a crença na imortalidade, na alma. Daí que pergunte de novo:
Poderá a imortalidade ser a continuação do “eu”? Estranha vontade esta que nega a destruição do que é misérrimo, mesquinho e escabroso. O imortal não tem qualquer afinidade com o mortal. Se o tiver, a imortalidade será o mais duro dos castigos, o mais tenebroso dos infernos, uma pena-de-suplícios-sem-fim.



Por fim, sem mais, limito-me a perguntar:
Porque existe alguma coisa em vez de nada?
Por acaso, acidente ou pela intervenção de um Génio da Indiferença ou dum Génio do Mal?
Se por acaso ou acidente, o que é que os proporcionou?
Se por intermédio de um qualquer Génio, quem o gerou?


A metafísica é uma corrida de cavalos mancos, que nunca irão atingir a meta.
Aceitam-se apostas!


Analisaremos seguidamente a questão muito debatida da divindade de Jesus 


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